sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A Fala do Coração. A poesia do NUDRA.


Pensar é sorrir por inteiro...
Nosso coração, sedento por paixão, sensibilizado com os encontros, deseja falar, dizer, compartilhar, e viver. Nossos encontros, mais que necessários, ajudam a elaborar algo fundamental da existência, a reflexão sobre os "sentidos da vida" e os "sentidos da arte", se é que, fazer arte, faz algum sentido! Viver, no dizer de Guimarães Rosa é um "rasgar-se e remendar-se" e, numa perspectiva mais abrangente, pré-supõe que devemos poetar e poetizar os momentos, tornando-os opções melhores para a construção de um um universo interior; um universo que agregue nossas buscas mais complexas e torne nossa vida possível.
Fazer a travessia da existência é a tarefa principal do ser humano, construir em comunidade, aceitar as companhias presentes e, ao mesmo tempo, transformá-las em potência, criação, plenitude. Assim, a vida vai ser tornando um rio onde o fluxo maior é o encontro. Ah, os encontro, a arte do encontro, é nela que vejo fluir o melhor de nós, compartilhamento, soma, troca, cumplicidade, essas palavras tão fortes, tão plenas de significados e tão imersas em possibilidades. 
Cada encontro do NUDRA é uma janela de possibilidades!

(Jiddu)

Veja alguns poemas e textos publicados no Morangotango vol. 02.

Clara, por inteiro
         (Anna Alves)

Clara era uma mulher diferente,
Longe de todos era quando sorria.
Na multidão sufocava,
Chorava, murchava,
Sentia-se vazia.
Seus olhos brilhantes falavam mais do que sua boca,

Pois quando calava, era quando dizia.
E eram tantos os dias de silêncio
Que quando a noite chegava, fugia.
Pro mato,
Pro mar,
Pra mim.
Clara era uma mulher diferente.
Não no físico, na mente.
Pois era quando passava a gritaria que Clara falava.
Na suave brisa que invadia a janela, era quando eu a sentia.
Lá estava Clara,

Se eternizando em poesia.


Tempo de ventania
           (Thainá Gomes)

O vento sopra forte
Entusiasmado que não cabe em si
Corrente de ar que varre tudo

Leva pra longe
Bagunça o pensamento
Nada tem organização

Pé de vento que sopra forte
Folhas bailando
Parecendo que vão soltar todas de vez
Sincronia de passos

Vento típico de mudança
Vem toda época se pronunciar
Chega assobiando

Venta lá fora
Lua cheia, céu estrelado
É época de ventar

Tempo de ventania
Novos ventos de tempo
Varrendo o que for solto
Um sopro do Mar.
_____________

coisa doida
doída
espinho encravado
ferida
ferida aberta
alma alerta
alerta de fogo, 
queimada
coisa errada
errado tudo
você mudo

                        você que se foda.
                                                  (Beatriz Ebecken) 

Morangotanguetes de outubro!

 *
É cedo, e avisto no meu campo duas torres se erguendo á minha frente de forma perigosa. A tal ponto que os cavalos ao meu redor relincham bravamente, porque tudo isso só teria um objetivo. Com o sol acima de minha cabeça, tenho a visão de meus camponeses avançando em direção ás torres de outro reino, ao tempo que vejo os seguidores dele fazendo o mesmo, contra mim. Guerra! Todos lutam com todas as suas forças.. Bispos contra camponeses, cavalos são lançados para me proteger… Camponeses tentam derrubar as torres. E quando vejo, já é tarde de mais.. Minha companheira, minha alma gêmea, já não existe mais… A alma a deixou de uma forma tão súbita, que me sinto sozinho, cansado, cercado, é tarde demais para continuar. Cheque-mate!

(Nayara Alvez)                                                                                           

*
 Um Certo Alguém
             (Nina Coelho)

Lá estava eu, bem triste, sozinha, afogando-me em solidão, pensando em algo que poderia acontecer, e não vai. Levantei do meu abrigo decidida a me deixar levar, pela morte. Fui andando em direção ao abismo, o abismo de meus devaneios. Quando chego na ponta, ouço uma voz à me chamar, virei para ver quem atrapalhava meu fim. Vejo-te ofegante, com olhos chorosos. - Não, não me deixe - você disse e chegou mas perto. Quando estava quase me abraçando, me desequilibro, mas não caio, acordo,percebo que estava sonhando, vejo-te dormindo ao meu lado, agradeço por ter-te  comigo. Deito em teu peito e tento novamente pegar no sono, com medo de voltar ao desespero.

*


Chuva de Sentimentos
Chuva
chuva que me molha
chuva que me olha
quando estou triste

chuva que me umedece 
quando desce
para me molhar

chuva que me encharca 
quando fica chata
por muito tempo

chuva, me deixa louco, me deixa oco, me deixa 
triste quando insiste, me deixa feliz na garoa, 
me deixa de boa, me deixa como uma criança 
que não cansa, quando a chuva vem, 
fico na janela pensando nela

(Joás Teodora)


*

E mais um dia começa 
                   (Priscila Mayer)

Mas diferentemente das outras manhãs 
Não desejo desaparecer
Não desejo que os lençóis me amordacem 
Quero vestir minha capa de invisibilidade 
E sentir sua respiração 
Ficar espreitando seus passos 
Até te ver dormir
E velar o seu sono
Sonhar os teus sonhos 
E saber se habito por lá 
Mas esqueci minha capa na lavanderia 
E assim sento no ponto de ônibus 
Só pra te ver passar 
Talvez hoje eu consiga lhe desejar Bom Dia!!!!


*
              ProsLiberct I
                (Kéren-Hapuk)

Desconexão infernal
Domina tudo
Domina Ambos
Domina ina
E não deixa fujir
Não deixa apartar
Come tudo , engorda, explode
Come mais, suga a alma

Perigo à vista
Preciso ir
Abandonar
Cansar e cantar
Mover e correr
Olhar e matar
RaráRará

Pede alforria
Lembra da tia
Tristeza plena
Alimenta-a
Vinda de longe
De dentro do ventre
levantar Romano
Sensual Cigano

Corra antes que padeça
Corra antes que envelheça
Para tocar o sentido
Basta ter um dedo


a expressão é a alma...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Comemoração de um ano e meio de muita escrita.

"Deixar correr o fluxo do rio da vida, na alma de escritor-estudante"!

Ainda não fizemos um inventário real do tanto que já se produziu no NUDRA - Núcleo de Dramaturgia do OFICENA, mas certamente, a produção não para. São textos, contos, crônicas, diálogos, haicais, etc.. os alunos de teatro que, durante 2013 e 2014 frequentaram as aulas dos professores Italo Luiz Moreira, Jiddu Saldanha, Gabriela Assumpção, Marcio Nascimento e Bia Flores, aproveitaram alguns momentos para exercitar a escrita, através de reuniões na sala Frederico Araújo, especialmente para escrever textos teatrais e outros gêneros literários, além de pintura e fotografia e, para muito mais além, fizeram, até agora, riquíssimos debates onde se conversou praticamente sobre tudo. Uma usina de pensamento onde o que se ganha é a clareza ou até mesmo aumenta-se a confusão nas mentes que estão surgindo para um debate direto, franco e profundo, sobre questões ligados ao nosso existir cotidiano, nossos sonhos e nossas invenções. 
O evento comemorativo do primeiro aniversário do NUDRA, será um grande momento, uma festa bonita onde jovens irão mergulhar numa verdadeira usina de produção de pensamento, um momento dedicado à invenção, à busca do saber e ao aprofundamento dele. É emocionante lembrar de cada momento já vivido na sala Frederico Araújo, os alunos que chegam primeiro, curiosos e discretos, completamente cuidadosos ao falar de si mas aos poucos se soltando, liberando idéias e compartilhando experiências incríveis, de vida, de família, de escola e de trabalho. O NUDRA, ao longo de um ano e meio de reunião, tornou-se uma espécie de laboratório vivo das experiências de cada um. Sem dúvida, um belo espaço para se fazer um inventário de viagem e depois, claro, colocar tudo isso no papel.

NUDRA lotado, lendo e conversando sobre a obra do escritor Tavorense
Theo Padilha. A esposa do escritor, Sra. Marilze Castilho de Souza.
Estamos descobrindo muita coisa, descobrindo possibilidades, como diz o querido professor Italo Luiz Moreira, grande influenciador positivo das mentes brilhantes que estamos vendo surgir no universo do teatro de Cabo Frio. Esses encontros gerados na "barriga do oficena" fez surgir um núcleo ligado especialmente à escrita, com novos e poderosos escritores, potencialmente surgindo, o futuro dirá, mas se ninguém se tornar escritor profissional, não tem problema, o importante é colocar seus delírios, sonhos e invenções no papel e deixar correr o fluxo do rio da vida na alma de artistas.


domingo, 10 de agosto de 2014

Os Novos dramaturgos do NUDRA.

NUDRA, significa "Núcleo de Dramaturgia do Oficena", a ideia foi lançada pelo professor Italo Luis Moreira, que gostaria de ver, no curso livre de teatro - OFICENA, alunos que gostassem de escrever, reunidos para criar seus próprios trabalhos. Mais do que isso, esses alunos deveriam mergulhar na escrita, não apenas com seus próprios textos, mas aprofundar a leitura de dramaturgos consagrados e desconhecidos. Desde abril de 2013, os alunos escritores passaram a se reunir na sala Frederico Araújo, situada no Teatro Municipal de Cabo Frio, onde também existe uma biblioteca de textos teatrais e teoria do teatro.
A vivência coletiva em leituras de textos escritos pelos escritores-estudantes e com a audiência dos alunos atores, conseguimos juntar uma construção coletiva de diversas novas cenas teatrais, onde o protagonismo foi feito pelos próprios escritores-estudantes, que mergulharam na criação de textos que se tornaram sucesso no trabalho dos atores alunos. A prova disso foram os dois eventos de cenas curtas criados em 2013 e 2014.
Vejam aqui uma retrospectiva fotográfica dos eventos ocorridos e que foi uma parceria clara entre escritores-estudantes e alunos-atores.

2013
Estreando em 2013, alunos do OFICENA em
sintonia com os estudantes-escritores, criaram
um lindo evento, foram 15 cenas curtas, ao todo.
VARIEDADES CÊNICAS DE 2013 - ONDE TUDO COMEÇOU.
O primeiro Espetáculo de Variedades Cênicas, aconteceu no dia 18 de Agosto às 20 horas no Teatro Municipal de Cabo Frio. Cenas escritas pelos alunos do Núcleo de Dramaturgia (NUDRA) do Oficena, Curso Livre de Teatro de Cabo Frio.
Todas as cenas foram criadas e ensaiadas pelos alunos, com a supervisão final dos monitores Italoms Luis (interpretação), Jiddu Saldanha (Teatro Físico), Gabriela Assumpção (Corpo) e Bia Flores (musicalização).
A dinâmica do Curso Livre de Teatro (OFICENA) funciona com diversos núcleos. dramaturgia, maquiagem, palhaçaria, figurino e cenário, além de produzir uma incubadora de grupos de teatros, buscando gerar autonomia para os alunos que queiram, no futuro, formar seus próprios grupos amadores locais.
ROTEIRO
1 - TRUPE DE PALHAÇOS (Treinamento de palhaçaria com Jiddu Saldanha)
2 - OTILHA, A CABELEIREIRA ESTRESSADA  (Fragmento 1)
3 - INTENSO -  de Stephany Torres
4 - ERA QUASE E NÃO FOSSE TANTO: de Bruna Alves
5 - AINDA ESTOU VIVO: de Camile Miranda
6 - OTILHA, A CABELEIREIRA ESTRESSADA  (Fragmento 2)
7 - A VIDA SÃO MOMENTOS: de Kérn-Hapuc
8 - A CURA DE ANITA: Kéren-Hapuc
9 - OS MATUTOS
10 - AMOR AMIGO: Priscila Mayer
11 - PEGANDO O ESPÍRITO DA COISA: de Jonathan Sanches
12 - IMAGEM E SEMELHANÇA: de Daniela Barbosa
13 - OTILHA, A CABELEIREIRA ESTRESSADA  (Fragmento 3)
14 - A VISITA – de Nathally Amariá
15 - O ESTRELATO DE GOLD: Criação Coletiva com músicas desenvolvidas por Keren-Hapuk e Nathally Amariá.
2013
O primeiro momento do OFICENA foi também o primeiro momento do NUDRA, uma experiência que deixou saudade e
que acordou o gigante dentro de cada escritor-estudante.  Em 2014, o feito se repetiu.
2014
Em 2014 a programação intensa do OFICENA,
incluiu as cenas curtas criadas pelo NUDRA, foram
10 cenas que movimentaram as cenas curtas deste ano.

VARIEDADES CÊNICAS DE 2014 - ONDE TUDO SE CONSOLIDOU.
O Segundo Espetáculo de Variedades Cênicas, aconteceu no dia 12 de abril às 21 horas no Teatro Municipal de Cabo Frio. O retorno de alguns estudantes-dramaturgos somou-se a novos participantes e novos alunos-atores também. A experiência foi linda e inesquecível.
ROTEIRO

Cena Coletiva: Ditirambo - Dramaturgia Jiddu e Italo.

Esquetes

1.     Os Vampiros Estão com Fome - de Kére-Hapuk
2.     Os Matutos e a Peixa - de Jiddu Saldanha
3.     O Sarau - de Larissa Pontes
4.     Riachos - de Priscila Mayer
5.     A História de João e Branca - de  Nathally Amariá
6.     Cereja - de Ivanice Fíusa
7.     Otília, em: “O Assalto” - de Jiddu Saldanha
8.     A Troglodita - de Harley de Bragança
9.     Alice ao Contrário - de Camille Miranda
10.  Jana, Pérola do Mar - de Nathally Amariá

Para concluir, os novos dramaturgos do NUDRA podem se orgulhar de terem suas peças encenadas pelo OFICENA, e desde sua fundação em abril já revelamos os talenos de: Stephany Torres, Bruna Alves, Camile Miranda, Kérn-Hapuc, Priscila Mayer, Jonathan Sanches, Daniela Barbosa, Nathally Amariá, Harley Bragança, Ivanice Fiúsa e Larissa Pontes.

2014
O resultado do trabalho em 2014 foi teatro lotado e muita gente feliz,
dramaturgos-estudantes, alunos-atores e o público
presente para festejar um grande acontecimento da juventude
que faz teatro em Cabo Frio.

Atualmente, o NUDRA expandiu sua atividade, as reuniões, antes feitas para escrever textos teatrais virou um espaço de crescimento e desenvolvimento literário, cumprindo com várias etapas de uma relação mais completa e complexa. O escritor-aluno exercita o debate, a argumentação e desenvolve sua escrita. Sua presença já está se espalhando pela cidade, em saraus e eventos ligados à leitura, onde alguns já se engajaram, levando seus textos pra ler.

Muitos desses escritores-estudantes são também aspirantes a fotógrafos, artistas visuais, desenhistas, haicaístas, e por aí, vai, um processo criativo despertado em menos de dois anos e que já dá frutos bem suculentos. O que mais falta este grupo aprontar?


quinta-feira, 24 de julho de 2014

A História do OFICENA contada em vídeos - 2013/2014

NUMA - Núcleo de Maquiagem e adereços, passou a se reunir desde 2013 por iniciativa da professora Gabriela Assumpção. Posteriormente os próprios alunos começaram a se encontrar para discutir questões voltadas para a maquiagem, prática de contra regragem e estudos de adereços aplicados ao teatro.


MERDÃO é uma prática cultural dos grupos de teatro brasileiros, onde todos se reúnem para desejar "merda" para quem chega, quem vai, novos espetáculos, harmonia de grupo, comemorações de cunho subjetivo e objetivo. Neste vídeo, o OFICENA se reúne para saudar os novos alunos inscritos e que estão inciando seu primeiro dia de aula.



FESTA DE FIM DE ANO - Comemoração de fim de ano, reunindo alunos e depoimentos sobre a vida artística proporcionada pelo convívio junto ao OFICENA, jovens soltam sua emoção e declaram seu amor ao nosso curso livre, espaço de vivência e crescimento artístico.


O AUTO DA COMPADECIDA - Texto de Ariano Suassuna (1927-2014) montagem inaugural do OFICENA, primeiro trabalho ensaiado e vivido em todos os processos necessários para se montar um espetáculo. O elenco selecionado para estrear este espetáculo, posteriormente, administrou de forma independente o espetáculo, fundando o grupo "Entre Palcos", primeiro grupo de teatro criado em Cabo Frio, depois de um jejum de mais de 10 anos sem novas formações.


OFICINA DE PALHAÇARIA - Oferecido gratuitamente para os alunos do OFICENA, a oficina de palhaçaria revelou o lado lúdico e aprofundou a descoberta da arte do palhaço para alguns alunos, que, se propuseram a mergulhar nesta vivência e descobrir sua própria linguagem de teatro-circo.



OFICENA EM CENA, foi a preparação do curso para levar em frente as cenas escritas pelos alunos do NUDRA - Núcleo de dramaturgia. Todo o processo para chegar ao resultado de culminância, proporcionando o primeiro encontro real com o público de Cabo Frio. Experiência inesquecível para todos os alunos da PRIMEIRA TURMA DO OFICENA!


CAMPANHA: VÁ AO TEATRO - Uma prática de conscientização dos alunos do OFICENA, como contrapartida aos cidadãos de Cabo Frio, apelos constantes, exercício de militância para levar os jovens da cidade e os próprios alunos ao teatro. As reuniões e encontros do nosso curso livre de teatro, leva o grupo a fazer "merdões" de comemoração à sua própria existência e à luta constante para que o teatro se torne, cada vez mais, uma necessidade social.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Priscila Mayer

É carioca, viveu em Duque de Caxias até seus 16 anos e desde os 10 estuda teatro. Veio para Cabo Frio e deixou seus sonhos numa gaveta. Cursou até o 4º período do curso de Sistemas de Informações. Hoje, aos 27 anos, divide seu tempo entre seus textos, e suas artes: Teatro e Artesanato.

Desejos   
(Por Priscila Mayer)

Drama em um ato - duas cenas

Descrição dos Personagens:

Ana: Jovem órfã, trabalha no Castelo Real como arrumadeira. Inocente, delicada, ar angelical.
Laurence: Filho mais novo do Rei Antony. Apaixonado por Ana, aguarda a maioridade da jovem para pedi-la em casamento. Doce, gentil, amado por todos.
George: Filho mais velho, herdeiro do trono. Arrogante, ambicioso e viril.
Erlan: Criado e puxa saco de George.

Cenário: O quarto de George.

Cena 1

(A cena se passa dentro do quarto de George. É noite e como de costume os irmãos estão conversando antes de dormir).

George: Mas mudando de assunto, quando pretendes levar Ana para sua recamara.

Laurence: Sabes muito bem o que penso sobre isso irmão. Ana ainda é uma menina, é tão doce e imaculada. Só será possuída por um homem após o casamento.

George: Bobagem! Não sabes o que dizes galego. Todas as mulheres são meretrizes de nascença e Ana não tem a quem dar honra. Leve-a aos seus aposentos, e se gostares dela, então se casa.

Laurence: Não sou como você irmão! Não sei me aproveitar de moças inocentes usando o nome da nossa família.

George: Faça como quiser só não reclames se outro o fizer.

Laurence: Essa conversa já deu tudo o que tinha que dar. Vou me recolher. Boa noite irmão.
                                   (Laurence sai. George anda de um lado para outro. De repente uma gargalhada).
George: Erlan! Erlan!   *Diz agitado e impaciente

Errlan: Pois não senhor!

George: Vá até Ana e dizes a ela que estou enfermo e que a chamo sem demora. (Diz se jogando na poltrona).

Erlan: Mas o que tens mestre? (Diz se sentando na poltrona ao lado).

George: Não tenho nada, só preciso ficar a sós com Ana alguns instantes e provar para o tonto do meu irmão o quanto ele está errado.

Erlan: O senhor é magnífico!

George: O que está esperando?Ande e fazes como lhe ordenei!
                        (Erlan sai. A iluminação cai e George se esconde atrás da poltrona. Ana entra esbaforida).
Ana: Senhor, o que aconteceu? Erlan disse que estás enfermo?
                        (George Aparece por trás de Ana e a agarra por trás).
George: Estou enfermo de desejos por ti Ana!
                        (George começa a alisar e beijar Ana, que o empurra).
Ana: Componha-se senhor! Estás bêbado?

George: Prepara-te Ana! Hoje serás minha! E você sabe muito bem o que acontece com quem não cumpre minhas ordens. Não quero ouvir nem um resmungo para não perder a vontade.
                        (George se aproveita de Ana toda a noite. Os movimentos seguintes são mostrados por sombra. A luz abaixa até a escuridão total).

Cena 2

                        (Iluminação simulando o amanhecer. George acorda, se veste, olha Ana na beira da cama e eis a constatação):
George: E não é que a galega era mesmo moça? (risada)
                        (Cutucando Ana)
George: Ande, acorde e limpe toda essa sujeira. E nunca mais ouse entrar nos meus aposentos.
                        (George sai do quarto. Ana se levanta chorando, sentindo nojo de si mesma, olhando tudo em volta com medo e repulsa. Laurence entra entusiasmado, mas sua expressão muda ao ver Ana sentada na beira da cama com trajes íntimos. Ela ao ver Laurence, busca se cobrir com um lençol).

Laurence: Ana o que fazes aqui e com esses trajes? Meu irmão tinha razão. Não acredito! Logo hoje que estava decidido a me declarar.
                        (Ana corre e segura o braço de Laurence o impedindo de sair).

Ana: Laurence eu te amo e sempre te amarei. Por favor me escute. Passei sim a noite com seu irmão, mas não foi por querer, acredite em mim.

Laurence: O que estás dizendo Ana?

Ana: Seu irmão me chamou ontem a noite me dizendo estar doente e quando entrei para ver como ele estava, ele me agarrou. (Diz aos prantos).

Laurence: Canalha, como ele pôde?
                        (é tomado pela raiva, abraça Ana fortemente)
Laurence: Se vista Ana.
                        (Enquanto Ana se veste, George entra no quarto e ironicamente)

George: Já a usou também Laurence?

Laurence: Eu tenho nojo de você. Como pôde? Como você teve coragem de fazer isso?

George: Fiz e não me arrependo. Está com peninha? Casa com ela então. Aproveita que está pouco usada.

Laurence: Eu vou te matar! Uma pessoa como você não merece ser o herdeiro do trono.
                        (George com deboche)
George: Eis o filhinho da mamãe mostrando sua verdadeira face! Vamos! Bota para fora esse monstro principezinho da mamãe!
                        (Laurence parte pra cima de George, mas Ana se joga na frente e o impede).
Ana: Por favor, Laurence não vale a pena. O futuro rei não pode ser um assassino.

Laurence: Você tem razão Ana, ele não vale mesmo a pena.
                        (Laurence se vira tentando se acalmar).
George: O romantismo de vocês me dá náuseas. (senta). Saiam já do meu quarto. E a propósito, eu serei o novo rei. (começa a folhear um livro).
                        (Ana abraça Laurence por trás, e num movimento rápido e certeiro, pega a adaga na cintura de Laurence e corta o pescoço de George).

Ana: O futuro rei não poderia ser um assassino, mas a futura rainha pode defender a sua honra.
                        (Laurence sorri aliviado e beija Ana calorosamente. As luzes se apagam).

FIM
                        (Por Priscila Mayer)




Nathally Amariá A. B. De Andrade.

brasileira, nascida no dia 15 de dezembro de 1994, em Cabo Frio, uma cidade no interior do Rio de Janeiro. 

Foi criada na mesma cidade em que nasceu por sua família, que por serem musicos, sempre a incentivou a arte.

Nathally Amariá foi uma criança que amava ler e começou a escrever poemas aos 11 anos.

Em 2012 terminou o ensino médio e se formou em professora no Instituto de Educação Professora Ismar Gomes de Azevedo, onde fez o curso normal.

Atualmente, Nathally Amariá mora em Cabo frio, estuda teatro e dramaturgia no Teatro Municipal de Cabo Frio; escreve textos, poesias e peças. Atualmente é professora e leciona em escola pública.


DO OUTRO LADO DA RUA

(texto de Nathally Amariá inspirado no conto “Homem que bebe sozinho” de Eduardo Galeano)

Personagens:

Edgar: Homem de uns 30 anos, sozinho, deprimido, estranho e observador.

Garçonete: Mulher de uns 20 anos, e que também é stripper. E vive mastigando chiclete.

Barman.

5 homens assassinos.

5 Dançarinas/Strippers.

A mulher dos peitos.

Figurantes.

Cenário 1 - Lanchonete: Um lugar claro, um balcão de frente pra porta de entrada, 3 mesas do lado direito e 3 do lado esquerdo, sobre as mesas uma toalha de mesa quadriculada.

Cenário 2 - Casa de Stripper: Um lugar com poucas luzes avermelhadas e outras azuis. Do lado direito da porta de entrada há um balcão onde o barman fica, e de frente para o balcão há um palco onde as sitrppers/dançarinas se apresentam. Há mesas redondas e cadeiras pela casa.

Cena 1

Edgar volta do trabalho e entra em uma lanchonete. Assim que se senta, uma garçonete vem anotar seu pedido.

Garçonete: Boa noite, qual é seu pedido?

Edgar: Quero um copo de leite.

Garçonete: Ok. Mais o que?

Edgar: Só isso.

(Garçonete sai em direção ao balcão, e antes que ela chegue Edgar a chama).

Edgar: Ei garçonete, por favor. Você sabe me dizer que lugar é esse aí na frente?

Garçonete: É uma casa de stripper. Por que? O senhor está interessado? (se insinua pra ele) Eu trabalho lá nos fins de semana. Toma meu cartão. (Ela tira um cartão de dentro do decote)

(Garçonete volta para o balcão, e Edgar fica desconcertado).

(Garçonete volta com o leite dele e sorri para ele).

(Edgar começa a tomar seu leite e observa tudo em sua volta. As outras pessoas na lanchonete, a garçonete quem também é stripper fazendo bola com o chiclete e do outro lado da rua a casa de stripper que chama muito sua atenção).

Cena 2

(Na casa de stripper há 5 mulheres no palco fazendo uma apresentação de burlesque, ficando seminuas e recebendo dinheiro de homens abjetos).

(Edgar entra na casa de stripper e senta no canto, perto do bar. Acende um charuto e fala com o barman).

Edgar: Por favor, eu quero um copo de leite.

Barman: (debochando) Você tem quantos anos? (risos) Leite? Você está brincando comigo né?

(Nesse momento entram na casa 5 homens com capuz atirando para todos os lados). (Gritos)

Blackout

Epílogo

(Edgar continua sentado em seu lugar e vê tudo quebrado, pessoas mortas e muito sangue).
(Edgar levanta, dá a volta no balcão e começa a falar).

Edgar: Mas que porra! Você não pode nem mais tomar um copo de leite nessa cidade sem antes tomar a porra de um tiro?

(Edgar pega a caixa de leite e vira em sua boca tomando-o desesperadamente, começa a andar pelo salão e sente uma fisgada no coração. Ele coloca a mão e a olha, sua mão está pintada com sangue).

Edgar: (rindo) Puta que pariu, puta que pariu, estou morto. (gargalhando)Sou um homem de sorte mesmo, morri tomando leite, fumando meu charuto e vendo peitos.

(Edgar cai sobre os peitos de uma mulher e enfim morre).



Fim

Daniela Barbosa

Aos 08 dias de junho de 1974 surgiu, em Cabo Frio, Daniela da Silva Lopes. Nasceu e cresceu na terra da família materna, herdou veia artística e sangue baiano paternos. Formou família, anexou Barbosa ao nome e duas filhas à sua existência. Estudou, formou-se Assistente Social. Pelos anos afora desenhou, cantou, escreveu, pintou, mas não era prendada para bordar. Queria mesmo era atuar. Hoje vai navegando entre as palavras e as formas, experimentando a dor e a delícia do mundo do teatro.


IMAGEM E SEMELHANÇA
DRAMA

AUTORIA DE: Daniela Barbosa

CENÁRIO

Quarto de Rosa. À meia luz. Rosa de bruços, em diagonal, na cama revirada. Ao seu redor, notas de dinheiro espalhadas. Uma mesinha de cabeceira com um abajur, um despertador e um livro: O NOME DA ROSA. Aos pés da cama, uma penteadeira com: pente, escova, maquiagem, uma garrafa com resto de uísque e um pequeno pote de vidro. Em frente, um banco caído de lado. Espalhados pelo chão: um vestido, espartilho, cinta-liga, meias ¾ e um par de sapatos femininos.

PERSONAGENS

ROSA: Prostituta (20 a 35 anos). Foi estuprada pelo pai, que tirou sua virgindade. Olhos grandes, tristes, com olheiras. Usa uma camisola longa, com uma faixa e aberta na frente com decote mostrando parte dos seios. Cabelos desgrenhados e maquiagem borrada.

MEDEIA: Mulher com terno preto, vestida e caracterizada de homem.

CENA 1

(O despertador toca. Rosa levanta o braço, sonolenta, desligando-o. Pausa. Espreguiça-se, desliga o abajur e se levanta. Ajeita o cabelo e fecha a camisola. Levanta o banco e senta-se à penteadeira).

ROSA: (em frente ao espelho, limpando a maquiagem) Maldita luz do dia! Dói-me a cabeça, o corpo, a consciência. Por que hei de sempre acordar com cheiro de culpa e gosto de arrependimento? (olhar perdido) Mas o último, o de ontem... Tão protetor... (e, levantando-se de súbito) Que a consciência apodreça nos infernos! (bebe o resto de uísque e pega o pequeno pote).

(Medeia surge de trás das cortinas, aplaudindo pausadamente. Sorriso sarcástico. Pega o livro na cabeceira, vira-se para a plateia).

MEDEIA: Vejamos... página setenta e oito: “Se há uma coisa que excita mais os animais que o prazer é a dor. Vives, sob tortura, como sob o poder de ervas que provocam visões”... (fecha o livro e o devolve à mesinha)

(Rosa esconde o pote entre os seios e se afasta apavorada, indo de costas para a frente do palco).

ROSA: (virando-se para a plateia) Não és real! És uma alucinação!
MEDEIA: (balançando negativamente a cabeça) Mal agradecida. Vês como sou benevolente para contigo! Mesmo sendo tão maltratada por ti, venho oferecer-te uma chance de te salvares.

ROSA: (gargalhada sonora) Salvação? (expressão de medo, esfregando as mãos) Vejo como és benevolente, cara consciência! Estiveste escondida naquela garrafa, ou no pó que me queima as narinas, ou ainda no homem que roubou-me mais uma noite de vida! E me assombras como num castigo divino! Volta para minha mente e desapareces logo! (fecha os olhos com força)

MEDEIA: (andando e parando atrás de Rosa) O que fizeste de ti? Que criatura desprezível tu te tornaste...

ROSA: O que fiz de mim?! TU me fizeste? O que OS HOMENS fizeram de mim? O que o MUNDO me fez? (olhar irônico) Sou somente imagem e semelhança! (andando em volta de Medeia, recita):

“O amor fez-me puta,
a vida tornou-me mulher,
a morte, enfim, me seduz.
Aqui jaz um romance moribundo,
fruto do amor expurgado,
à luz do dia, silenciado
em sua lápide, esculpido em cruz.
(parando em frente à plateia)
Da paixão incestuosa
jorrou meu sangue imundo
por veias abertas a foice,
à espera do julgo final.
Dos subterrâneos do Éden
ao purgatório dos meus dias
escarro o pecado original
que me dilacera as entranhas,
enquanto liberta-me a alma fria.
Sou mais uma Eva, vadia,
comida num jardim qualquer.
Alimento divino do homem
sua filha, sua mulher”.

MEDEIA: (com ódio) Herege.

ROSA: Humana.

MEDEIA: Profana! Nem a morte te livrará dos teus pecados. Guarda esse arsênico, querida. Teu estômago é sensível, vais acabar vomitando. Tu és tão fraca que não consegues nem morrer sozinha. Toma. Uma arma. Atira. (aponta a mão em forma de revólver para Rosa) Despede-te de tua vida impura. Lava, com teu sangue, tuas mãos pecadoras. 

ROSA: (rosto entre as mãos, gritando) Que queres de mim?

MEDEIA: Sentir o gosto de fel na tua boca (aproxima-se do seu rosto, simulando um carinho) Quero teu sangue, pois a alma, a mim já pertence...
Rosa vira o rosto de súbito. Tira a faixa da camisola e amarra no pescoço, ameaçando enforcar-se. Começa a dançar e entra num transe.

MEDEIA: Vai! Cumpre tua sentença, se pensas que mereces tal alívio para essa alma enferma. (virando-se de costas) O inferno está em tuas mãos, em tua boca, em teu corpo. Aquele que te possuiu, mesmo morto, ainda está em ti... Levarás para onde fores. Morta ou viva, vês a lembrança daquela noite como uma espada transpassando teu peito frágil e pálido. Nem a morfina de tuas veias te alivia a alma. (voltando-se) Tu me provocas náuseas...

ROSA: Tu não existes. És fruto de minhas viagens alucinógenas...
MEDEIA: Sou fruto das tuas escolhas. (falando ao seu ouvido) Nasci de tuas entranhas. Cresci dos teus cortes, de tuas dores. Alimento-me de teus medos. Padeço em tua vaidade, em tuas ilusões. Viverás para sempre em mim e eu em você. Morrerei com tua morte. (aperta violentamente a faixa).
Rosa se solta e cai, apavorada. Medeia caminha à sua volta, ajoelhando à sua frente.

ROSA: (ofegante) Agora entendo... és real porque eu vivo. Sem mim, não és nada. Vives do meu pecado.

MEDEIA: (mãos postas em oração) Agradeço aos céus este momento sublime... Confessa teus pecados, pequena meretriz! Escolheste viver na noite, traçaste teu destino. Pede perdão! (gargalhada)
ROSA: A Deus?

MEDEIA: Não, imprestável! (irônica) A esta que vos fala. Por travares batalhas diárias contra mim. Logo eu, que sempre estive contigo. (olhando para a penteadeira) Quantas noites tu me deixaste esquecida em tua gaveta em meio a doses de absinto, seringas e culpa. (virando-se de costas para Rosa) Minha dor nunca foi suficiente para evitar as dores físicas nas quais mergulhas para fugir da vida.

ROSA: Pois em breve irás livrar-te de mim.

MEDEIA: Tua natureza é covarde, minha ninfa... Tu és uma névoa, um sopro, uma bruma que encobre a verdadeira natureza humana. Não passas de um ser delicado como nuvem que se desfaz quando o sol se abre. E qualquer vento mais forte dissipa tua valentia.

ROSA: Eis essência de nossa existência: do pó ao pó.
(Tira do peito o pote e o esvazia em sua boca. Senta-se à escrivaninha e dedilha um piano invisível, cantarolando uma melodia. Medeia vira-se e acompanha seus gestos com o olhar).

MEDEIA: (com desdém) Pareces realmente feita de pó...

ROSA: (olhar fixo) Do pó ao pó.

MEDEIA: Hum... poética. Ou devo dizer... patética? Tens certeza de que não tomaste o arsênico? Pareces delirar...
Rosa pega uma adaga na gaveta e a acaricia, serena. Abaixa a cabeça, abraçando o objeto.

MEDEIA: (balançando a cabeça negativamente) Achas que me assustas? A morte não acabará com teu martírio. Aliás... nunca fostes mártir. De Antígona, só tens a tragédia que é tua vida. Não és digna, sequer, de encenar esse papel.
(Rosa levanta e desequilibra. Limpa o suor da testa com o braço. Para em frente a Medeia e, com as duas mãos, aponta a adaga para o próprio peito).

ROSA: Tu és o demônio. Devo matá-la em mim!
(Luzes se apagam. Grito de dor. Silêncio).

ROSA: Era cianureto, e não arsênico.
(Luzes se acendem. Rosa de pé em frente ao corpo de Medeia no chão. Braços estendidos e adaga balançando nas pontas dos dedos. Virando-se para o público, solta a adaga. Fecha os olhos com força e novamente desequilibra, caindo de joelhos).

ROSA:

“Maldita carne que aprisiona
e veda-me os olhos da alma faminta
por romper com os grilhões da matéria
em decomposição.
Bendito torpor que a tudo torna tênue,
tal qual fio do líquido rascante.
Vinho rubro derramado sobre o corpo
Consagrado em sua imperfeição.
Amaldiçoado poema de minha vida,
obra inacabada de uma tragédia anunciada.
Concebida pelo pecado e
pelo perdão, esquecida”.

(Abaixa a cabeça novamente. Deita-se em posição fetal. Deixa cair o vidro vazio que rola pelo chão).

FIM

Daniela Barbosa